segunda-feira, outubro 20, 2008

Um amigo, Saxofone e a Morte













Messias, gente boníssima, conheci e conheço poucas pessoas como ele, coração como se fosse a arca de noé, todos vivem ali, homens e bichos, numa enorme fraternidade.

Lembro-me bem como o conheci, foi numa tarde de domingo, o Andrézin me ligou, e disse: Wagninho você precisa conhecer um camarada, o cara é muito gente boa, faz tempo que quero te apresentar, mas devido a correria, sabe como é, já falei de você para ele, lembra daquela fita que tem o show do Michael Brecker no Brasil? Eu respondi: claro que lembro. O Andrézin continuou: então cara, essa fita é dele.

Não estava fazendo nada naquela tarde, daí fomos lá.

Uma tarde que marcou, o cara me recebeu em sua casa, como se fossemos amigos há muito tempo, logo nos ofereceu um caldo de mocotó, e contando várias “estórias”, colocando suas músicas de baladas dos anos 80, e começamos a tomar várias cervejas, na celebração de seus momentos em sua juventude, logo que surgia um solo de saxofone no meio do som que estavamos ouvindo, puxa vida, a alegria dele era contagiante.

E o papo era demais, Andrézin, João (irmão do Andrezin) e eu, sentiamos moradores de sua humilde casa, na periferia de Sampa, mas para nós, sentiamos estar no banquete dos céus, uma comunhão regada ao molho de muita alegria, sucos de uma variedade de risadas, sobremesa com felicidade e simplicidade, com aquela cobertura de música e granulados de solos de saxofone, tudo que o fazia feliz.

Que tarde, não gosto muito de cerveja, mas nunca uma cerveja foi tão boa.

Daí, começamos a conversar sobre saxofone, e ele tirou seu sax tenor L.A azul, mas é daquele “azul cheguei”, Meu Deeeus.......

Pedi para tocar alguma coisa, mas fazia anos que ele não tocava, palhetas já envelhecidas, mas conseguiu tocar, tocou o que gostava. E cada vez me entusiasmava mais com o Messias, o tempo se quer fazia efeito, nós queríamos era ficar naquele palácio de amizade, naquele momento de contentamento.

Depois que tocou, ele perguntou se eu conhecia o Michael Brecker, eu disse que sim.

O cara era uma figura de simplicidade que disse: O cara é tão rápido, tão bom que chega a ser chato.

Estávamos bebendo tanto, que depois dessa frase, fomos possuídos pela crise do riso (como queria me deitar com essa crise novamente..rs), nós não conseguíamos parar de rir, minha barriga começou a doer, o Andrézin caiu no chão de tanta risada, o João já estava mais pra lá do que pra cá, que foi pro banheiro, o Messias tb ria demais.....
No fim desse encontro com esse novo amigo, voltamos para casa alterados pela cerveja encantada produzida na Fábrica-lar do Messias. Saímos de lá com o próximo encontro marcado. Que nunca mais aconteceu, devido a vida louca de Sampa. Mas sempre comentávamos, puxa precisamos ir ao messias de novo, mas dessa vez, vamos levar o Lazin.

Sempre ficávamos falando para o Lazin sobre o Messias, e contávamos e recontávamos essa “estória”.

No último mês soubemos da notícia de sua súbita doença, e que ele estava na U.T.I, e logo fomos visita-lo.

Ele já estava respirando por aparelhos, mas consciente, e quando entramos no quarto, tivemos um choque, porque ele queria falar com a gente, mas não conseguia, e seu esforço era espantoso, e nós o acalmávamos, brincamos um pouquinho com ele, ao saírmos do hospital, estávamos chocados, pq ali estava um irmão em apuros, Andrézin e eu, queríamos chorar porque era como se fosse parte de nós ali.

Hoje, dia 18 de outubro, de 2008, recebi a notícia de seu falecimento, a primeira sensação, foi de que minha vida ficou menos alegre, porém aliviado de sua dor e com a certeza de que logo quando vamos nos encontrar, e sentar no banquete dos céus e beber novamente e rir muito.

Recebi esse texto do Miguel, escrito por C.S Lewis sobre perder um amigo:

“Lamb diz em algum lugar que se dentre três amigos (A, B e C) , A morresse, então B perde não só A mas também a “parte de A em C”, enquanto C perde não A mas “a parte de A em B”. Em cada um de meus amigos existe algo que somente um outro amigo pode trazer plenamente à tona. Por mim mesmo não sou grande o bastante para fazer com que o homem:

total entre em atividade. Quero outras luzes além da minha para mostrar todas as suas facetas. Agora que Carlos morreu, jamais verei de novo a reação de Ronaldo a uma brincadeira especial de Carolina.

Longe de ter mais de Ronaldo, de tê-lo “ para mim mesmo ” agora que Carlos se ausentou, tenho menos de Ronaldo. Assim sendo, a verdadeira Amizade é o menos ciumento dos amores. Dois amigos ficam contentes quando chega um terceiro e três quando o quarto se reúne a eles, basta que o recém-chegado tenha as necessárias qualificações para tornar- se um verdadeiro amigo.

Eles podem dizer, como as almas abençoadas dizem em Dante: “Está chegando alguém que vai ampliar o nosso amor ”. Pois neste tipo de amor “dividir não é remover”. A escassez de almas afins (para não mencionar as considerações práticas sobre o tamanho dos aposentos e a audibilidade das vozes) naturalmente estabelece limites para a ampliação do circulo; mas dentro desses limites possuímos cada amigo mais e não menos, à medida que aumenta o número daqueles com quem o partilhamos. A Amizade manifesta nisto uma gloriosa “proximidade por semelhança” ao próprio céu onde a multidão dos benditos (que homem algum pode contar) aumenta a fruição que cada um tem de Deus.

Pois cada alma, vendo-o à sua maneira, sem dúvida comunica a todos os restantes essa visão singular.
Essa a razão, conforme um velho autor, por que os serafins na visão de Isaías clamam: “Santo, Santo, Santo” uns para os outros ( Isaías 6: 3).

Quanto mais então dividirmos o Pão Celestial entre nós, tanto mais teremos.”

Essa foi minha amizade com o Messias, e quando todos nós nos reunirmos no banquete dos céus, direi a todos vocês: Esse é o José Messias de quem falei tanto, e que virou “estória”.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Tarefa difícil.....





Desculpem, mas hoje não vou postar exercícios, quero apenas compartilhar.......


Realmente é uma tarefa dificil escrever, mas escrever e mostrar ângulos diferentes é um desafio, ainda mais nessa era da informação clara demais.


Quando a coisa está clara demais, acontece que, não surge o desejo de traçar novos caminhos, ou seja, está tudo pronto, é só chegarmos e copiarmos.


As partituras estão todas aí, com os segredos todos “desvendados” pela era da informação clara demais.


Se está tudo claro demais, surge a satisfação, o dever está cumprido. Cumprido quando, "descobrimos" as técnicas “breckianas”, e o “meu desejo” é logo saciado por fazer igual, então não vou mais além, porque a meta ja foi alcançada.


Os mais tradicionais, “adoram” a era do fraseado bebop, e tem um preconceito com outra linguagem.


Quando disse adorar, disse com uma conotação religiosa mesmo, pq erguem-se altares, para uma linguagem e única, essa linguagem e única é o conceito de que “tal” estilo é “O MELHOR ESTILO MÚSICAL”, e fazem dessa linguagem um “deus”. E o que é diferente desse “deus”, é coisa ruim, não presta. Ou seja, outros estilos músicais, ou melhor, de expressões da multi-linguagem músical, é tido como se fossem do capeta!!!


E nessa desordem psicológica-músical, a frase que os move, no fundo no fundo, é a seguinte:


Não suportarás o existir da arte do seu próximo.


É de ficar maluco, quando surgem aquelas frases, a música é espiritual, ainda cita os ícones do jazz, para justificar sua busca a essa musicalidade espiritual.


Mas é uma espiritualidade que não respeita o gosto do próximo. Uma arte assim, é inócua e vázia.

A liberdade da CRIA-ATIVIDADE, nunca baterá na portas desses.


Outro dia ouvi uma frase que explica a medíocridade, ou melhor, a revelação de que a criatividade não faz morada ali, foi mais ou menos assim:


“ O “fulano de tal” falou, que muito cara não faz condução de jazz no baixo, o que esse “Organista” faz com a mão direita.”


Como se o fato de dizer que o “fulano de tal” precisasse falar para validar o que ele já sentiu, mas se o “fulano de tal” não falasse, acho que ele desconfiaria do seu sentimento, ou na pior das hipóteses para querer justificar sua opinião pra mim.


O meu silêncio é a minha “concord-ÂNSIA”.


Isto porque está tudo claro, se está tudo claro não há nada de novo, e isso vai permeiando a psicologia-músical dos dias de hoje:

Falta de humildade, porque está tudo claro, “está tudo aí”, “eu sei tudo”, “sei o que é bom e o que é ruim”.


Quando está tudo claro, está tudo concluído, o educador-escritor-psicanalista Rubem Alves, em seu livro “Lições de feitiçaria”, mais ou menos assim: A Conclusão faz parar o pensamento....


Ou seja, Se eu conclui, pra que ficar pensando mais no assunto?


Desculpem se estou tomando tempo, mas compartilhar sempre é bom.....


Pensem nisso:

Não tenham na clareza da informação-conclusão dos dias de hoje, como a meta a ser alcançada, se não, estaremos apenas entrando, no caminho da morte da LIBERDADE e da CRIA-ATIVDADE.